Eles se conheceram em um passeio de bicicleta na adolescência para não mais saírem de perto um do outro.
Eles se conheceram em um passeio de bicicleta na adolescência para não mais saírem de perto um do outro. O mecânico Arno Guido Stoepcke, 73 anos, e a dona de casa Carmen Stoepcke, 75, viveram juntos nos últimos 55 anos, sempre morando no bairro da Velha, em Blumenau. O tempo não tirou o entusiasmo dos amores jovens. A matéria é do jornalista Jean Laurindo, publicada pelo Jornal de Santa Catarina.
Carmem ainda cuidava do marido com a atenção de namorada, com direito até a ciúme das enfermeiras nos últimos tempos em que a doença quis se intrometer na relação. No último fim de semana, os dois morreram em um intervalo de 17 horas e foram sepultados juntos, lado a lado, no Cemitério da Rua João Pessoa, no mesmo bairro em que compartilharam a vida nas últimas cinco décadas.
Há cerca de quatro anos, Arno descobriu um enfisema pulmonar que lhe fez debilitar a saúde. Há um mês, a enfermidade se agravou e ele descobriu que estava com câncer de pulmão. Os dias difíceis vieram, mas os dois continuaram sem sair do lado do outro. Depois de tantos anos de apego e companhia, Carmen passou a dizer para o único filho Adilson e para a nora Helena que não aceitava que ele partisse antes dela, que um não poderia morrer antes do outro.
O estado de saúde de Arno foi se agravando, mas na tarde de quinta-feira foi Carmen quem teve um infarto e precisou ser internada no Hospital Santa Isabel. A partir daí o marido foi perdendo o restante da força que reunia para lutar contra a doença.
Na tarde de sábado, Arno chamou a nora e pediu que ela arrumasse a roupa para ele partir. Quando Helena separou o terno e a camisa verde que ele usou na festa de Bodas de Ouro, cinco anos atrás, o sogro então pediu que ela separasse também a roupa da Carmen. “Eu perguntei: mas por quê, seu Arno? Ela está no hospital e não vai precisar de roupa lá, ela está bem. Aí ele respondeu: é que ela também vai”, disse.
E assim aconteceu. Dez minutos depois de a nora atender ao pedido e separar a camisa floral com detalhes verdes como a camisa do sogro, Arno segurou a mão do filho antes de suspirar pela última vez e morrer. Era por volta das 16h de sábado. No domingo, às 9h, somente 17 horas depois, foi a vez de Carmen não resistir e morrer no hospital em que estava internada. Os dois foram sepultados juntos às 17h de domingo. Além do filho e da nora, deixaram dois netos.
“Os dois foram juntos, como ela queria. Um amor além da vida, um do lado do outro. Muito lindo, e também muito dolorido para quem fica”, lamenta a nora.