A tragédia que ocorreu na escola em Goiânia reacende a discussão sobre o conceito de bullying não só nas escolas, mas na sociedade como um todo, pois está havendo uma banalização ao atribuir o conceito a todo e qualquer tipo de violência que ocorre em ambiente escolar, como se tal comportamento só lá existisse, e só a escola fosse responsável pelas tragédias que acontecem. É preciso refletir, entender e discutir o conceito de bullying, suas origens, consequências, manifestações, formas de identificação, enfim um universo de fatores que associados geram um problema crônico no país.
Conforme dicionário Aurélio, bullying é uma “forma de violência que, sendo verbal ou física, acontece de modo repetitivo e persistente, sendo direcionada contra um ou mais colegas, caracterizando-se por atingir os mais fracos de modo a intimidar, humilhar ou maltratar os que são alvos dessas agressões”.
Assim, o bullying pode ocorrer em qualquer âmbito social, como: escolas, universidades, locais de trabalho, famílias, vizinhanças; não acontece de um dia para o outro; é algo perceptível pelo grupo, pelo ambiente, porque a vítima começa a demonstrar alterações de comportamento, como: isolamento, irritabilidade, ansiedade, falta de apetite, baixo rendimento escolar, dentre tantos outros sinais de alerta. Pequenas desavenças, brigas, discussões, desentendimentos, mesmo entre professores e alunos, em hipótese alguma caracterizam bullying, porque são acontecimentos corriqueiros, pontuais e resolvidos sem traumas. Só passa a ser quando a atitude abusiva persiste e é praticada por um ou mais indivíduos
Partindo desse princípio, deduz-se que a tragédia em Goiânia não reflete a prática de bullying com o assassino, pois pela convivência dele na escola, pelos depoimentos de pais das vítimas, dos colegas de classe, da coordenadora pedagógica ( presença constante e ativa entre os alunos) nada foi percebido, não houve queixas, nem mesmo os professores na convivência diária perceberam anormalidades. È evidente que o apelido foi apenas o estopim que trouxe à tona uma personalidade formada por diversos fatores sob a responsabilidade da família.
Onde estavam os pais que não perceberam que o filho estava com problemas? Ou ele fingiu tão bem que não se deram conta? Ou a família divide o mesmo teto e não compartilha suas angústias? Ou os afazeres do dia a dia não permitem que enxerguem ao seu redor? São tantas indagações sem respostas…
As tragédias que vêm acontecendo devem servir de alerta para que pais e mães enxerguem mais seus filhos. A família é a responsável pela formação ou deformação do caráter dos filhos, pois é ali que são vividas as primeiras e melhores lições de amor, de respeito, de responsabilidade, de ética, dignidade, comprometimento, que eles levarão quando baterem asas na busca da realização de seus sonhos.
Assim, dar informações e não conviver com os filhos de nada adianta. Informação sem convivência não gera crescimento emocional. O espaço suave e curioso que é criado na relação entre pais e filhos é o que gera a confiança.
É preciso aprender a viver com os filhos e não apenas para os filhos. É preciso ensinar-lhes o valor da vida.