Atingido por um incêndio que deixou três mortos na madrugada deste domingo, o Hotel Rech, em Braço do Norte, estava sem o alvará dos bombeiros para funcionar. As vítimas, entre elas uma menina de 13 anos, morreram devido à inalação de fumaça. Outras sete pessoas estavam hospedadas no local, e três delas permaneciam internadas até a noite de ontem, todas com quadro estável.
De acordo com o comandante do 8º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar, o tenente-coronel Marcos Aurélio Barcelos, a validade da última vistoria feita no estabelecimento terminou no ano passado e desde então o local estava irregular.
Questionado se houve falha de fiscalização por parte dos bombeiros da cidade, o comandante Barcelos declarou que a responsabilidade de solicitar a vistoria era do proprietário do hotel. A reportagem não conseguiu contato com o dono do estabelecimento.
No domingo, o próprio comandante Barcelos foi um dos responsáveis pela perícia que vai apontar as causas do incêndio. “Pudemos verificar que os sistemas preventivos estavam instalados e funcionando”, adiantou.
Porém, ainda segundo o comandante, o laudo oficial só deve ficar pronto daqui a 20 dias. Uma das hipóteses é de que o fogo tenha começado na lanchonete, no piso térreo. O hotel foi isolado no domingo para perícia e ontem seguia sem acesso para a população.
Hóspedes pularam da janela para se salvar
Segundo o Corpo de Bombeiros de Braço do Norte, o fogo no Hotel Rech, que fica no Centro da cidade, perto da igreja matriz, começou por volta das 2h30, no andar térreo, e se espalhou até o primeiro andar. Sem acesso à porta de saída, os hóspedes ficaram presos nos pavimentos tomados por fumaça e fuligem.
Alguns dos sobreviventes contaram que precisaram pular das janelas para se salvar. Anderson Aparecido Vitório, de 32 anos, e a namorada, Kauane Cardoso dos Santos, de 16, foram dois deles.
Morador de Jacarezinho, no Paraná, o casal estava na cidade catarinense havia uma semana porque Anderson trabalhava na instalação de uma máquina industrial. Ele conta que dormia quando ouviu um grito vindo do corredor. Ao abrir a porta, percebeu a fumaça. “Não dava para ver dois palmos além do rosto”, lembra.
Anderson relata que conseguiu puxar para dentro do quarto o senhor que pedia por socorro e que, depois, os dois homens e a jovem saíram da janela e alcançaram a marquise do hotel, e depois pularam.
Após pular uma janela, ele usou uma árvore para sair do local. “Era a única saída porque a escada estava tomada. Só tinha a escada fora do bar, mas tinha uma parede de madeira, então era a mesma coisa de não ter nada porque estava pegando fogo. O único jeito foi pular”, contou Anderson.
Ele e a namorada foram os primeiros a receber alta, ainda no domingo.
Vítimas morreram asfixiadas por fumaça
Yasmin Streger, de 13 anos, Cristina Schimitt, de 59, e Alexandre Frontino, de 32, as três vítimas fatais da tragédia, morreram asfixiadas.
“Nenhuma das vítimas teve queimaduras. Infelizmente, foram todas intoxicadas pela fumaça”, declarou o sargento Clóvis Soares de Carvalho, um dos plantonistas do Corpo de Bombeiros de Braço do Norte na noite da tragédia.
Yasmin Streger estava no Hotel Rech com os pais, Adelar Rothemann e Sonia Strege. A família é do Paraná e participou de uma festa de parentes em Braço do Norte. Eles se hospedaram no hotel no sábado. O corpo da menina será enterrado hoje, no Paraná.
A segunda vítima, Cristina Miranda Schimitt, 59 anos, era moradora da cidade de Gaspar e estava em Braço do Norte com o marido para visitar um amigo. O casal dormia no primeiro andar e teve o quarto tomado pela fumaça. Ela chegou a ser levada para o hospital, mas morreu logo em seguida. Cristina Schimitt foi enterrada ontem, na comunidade de Barracão, em Gaspar.
O último corpo a ser encontrado foi de Alexandre Frontino, no banheiro do quarto do hotel onde ele morava. O jovem era natural de São Ludgero e trabalhava em Braço do Norte. O corpo dele foi enterrado ontem de manhã, no cemitério municipal da cidade.
Em pânico, menina não conseguiu sair
Uma das vítimas fatais da tragédia, Yasmin Strege entrou em desespero e não conseguiu pular da janela.
A família foi surpreendida pelo fogo e, primeiro, tentou sair pelo corredor. Mas por conta da intensa fumaça eles recuaram para dentro do quarto e buscaram a janela, na tentativa de pular para a marquise.
Segundo testemunhas, o pai pulou primeiro. Sonia pulou em seguida, mas quando chegou a vez de Yasmin ela teria entrado em pânico e voltado para dentro do quarto. O pai, Adelar, ainda tentou escalar a janela para salvar a filha, mas não conseguiu.
Yasmin foi resgatada no corredor do primeiro andar do hotel, ainda com vida, mas morreu a caminho do hospital. A mulher foi internada em condições estáveis e o pai foi levado em estado grave para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão.
Com informações do Jornal Diário do Sul