Visões de seres imaginários, vozes e muitos delírios, esse é o quadro de uma pessoa que pode sofrer de esquizofrenia. É muito comum que o portador dessa doença crônica que atinge o cérebro, tenha alucinações, passe por períodos de apatia, falta de organização no pensamento e causa dificuldades em se relacionar. A doença atinge partes neurológicas muito sofisticadas. Mas não foi encalço para um morador do bairro Fábio Silva, em Tubarão, Israel Vieira Rocha, diagnosticado com o distúrbio aos 15 anos.
Atualmente com 26, é um exemplo de como viver com esquizofrenia e superar os desafios que ela impõe. Antes de descobrir que possuía o distúrbio, tentou o suicídio uma vez. De lá para cá, foram mais três tentativas e hoje, o tubaronense só pensa em viver e sonha alto com o futuro, principalmente após criar gosto pela literatura.
Em outubro do ano passado, Israel lançou o livro Notas de uma mente com esquizofrenia, pela editora Unisul. Em 45 dias, 400 cópias da primeira edição esgotaram. Só no lançamento foram 124 exemplares vendidos. A obra foi comercializada por R$ 20,00. Todo o valor arrecadado é revertido para a Clínica de Saúde Mental da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Agora chega às livrarias a segunda edição. São 500 cópias. O autor crê que este livro tem tudo para repetir o sucesso do primeiro.
“Escrevi para ajudar as pessoas a olharem de outra forma para o portador de esquizofrenia. Muitos enxergam esta situação de maneira distorcida. Já tive uma fase crítica e agora, com tratamento e acompanhamento, levo uma vida normal, tanto que escrevi dois livros”, comemora Israel.
O tubaronense relata que levou um ano para escrever e que tudo isso só foi possível com a ajuda de seus familiares e profissionais do Projeto Amigos da Saúde Mental, da Unisul, que o auxiliam desde a descoberta do transtorno.
Diagnóstico não foi aceito no primeiro momento
Israel Vieira Rocha, diagnosticado com esquizofrenia aos 15 anos, lembra que no início foi tudo muito difícil. A família não aceitava o diagnóstico, ele também não. A mãe do escritor, Simone Vieira Rocha, afirma que desde a infância ele era mais quieto e reservado.
“Meu filho não participava de nada, não queria estar conosco nas festas de família, na escola se isolava. Passamos por muitas situações complicadas”, recorda Simone. Mãe e filho destacam que foram dias de luta para sobreviver. Conforme o jovem, a sua melhora não ocorreu de uma hora para outra. “Acredito que tive um avanço significativo aos 23 anos. Muitas vezes fui agressivo com os meus pais. O projeto no qual participo foi fundamental para amenizar os sintomas”, assegura.
Uma das idealizadoras do Projeto Amigos da Saúde Mental, da Unisul, a professora e psicóloga Rosane Romanha, salienta que todo o início é difícil. “Ele teve uma recuperação muito boa. A esquizofrenia atinge as pessoas muito cedo e causa um prejuízo grande. Vimos no Israel um talento enorme com a escrita. Ele sempre declarou sua vontade literária, só o estimulamos”, destaca.
“Dá um orgulho enorme ver ele bem. Trabalhamos muito. É preciso persistir, sempre. Ao ver a evolução do Israel, e de outros pacientes, tenho a convicção do dever cumprido”, declara Rosane.
Atualmente, o escritor tubaronense prepara um romance que deverá ficar pronto em breve. Após todas as adversidades, Israel casou-se com uma jovem que conheceu no projeto da universidade. “Pensei que nunca me casaria, mas não sabemos dos projetos de Deus. Faço faculdade de história, realizo trabalho voluntário e quando me formar quero lecionar”, projeta.
Como obter um exemplar
O livro do escritor tubaronense, Israel Vieira Rocha, pode ser adquirido por meio do Projeto Amigos da Saúde Mental, no facebook.com/Israelvieirarocha, ou diretamente na Livraria Santa Fé,em Tubarão.
Com informações do Jornal Notisul