Doze presos ocupavam as duas celas da CP na tarde deste domingo.
Mesmo depois da conclusão da construção das novas celas no ano passado, a Central de Polícia – CP de Araranguá não tem mais onde alojar presos. Na tarde deste domingo (3), 11 homens ocupavam as duas celas da CP e um ficou alojado no banheiro, totalizando 12 presos na delegacia.
“Na verdade a situação está se tornando insustentável novamente aqui nas dependências da Central de Polícia, em razão da superlotação das celas que vem ocorrendo nas últimas semanas, não baixa de dez presos. Hoje, em pleno domingo, eu estou na minha folga aqui na delegacia tentando solucionar o problema, um policial meu está a tarde toda no hospital com um preso, estamos tentando junto ao Departamento de Administração Prisional – DEAP alguém que vá lá substituí-lo, as instalações estão defeituosas, tivemos que solicitar a vinda de um outro preso para desentupir. São onze presos colocados em duas celas e um na parte reservada ao banheiro, semana passada tivemos com quatro adolescentes”, declarou o delegado coordenador da Central de Polícia, Jorge Giraldi.
O delegado teme pela segurança de seus policiais, que têm que fazer o serviço de carcereiros e lembrou da interdição do Presídio Regional de Araranguá (PRA) ocorrida parcialmente em abril de 2013 e totalmente em julho de 2014. “Os meus policiais do dia infelizmente não estão conseguindo atender nem as ocorrências policiais, porque eles têm que dar atendimento aos presos e isto está prejudicando sensivelmente o serviço da Polícia Civil. Solução tem, há esta interdição do presídio que não se resolve, esta situação que perdura há três anos. Nós vamos nos reunir esta semana com o juiz da Vara de Execuções, com a Promotoria da Vara de Execuções e colocar a eles esta situação, porque eu temo que esta superlotação nas celas da Central de Polícia possam gerar futuramente um problema mais grave, como uma rebelião, como a tomada de meus próprios agentes ali dentro”, asseverou Giraldi.
O delegado cobra uma providência do DEAP. “Está ficando insustentável, a gente está trabalhando estressado, porque tem que atender o pessoal, tem quem fazer o serviço da polícia judiciária e tem que estar cuidando de presos. Eu mesmo, como delegado de polícia, estou estressado, tenho que atender preso, tenho que tentar resolver esta situação, que não é problema nosso. Tanto é, que está o chefe de segurança do Presídio Regional aqui também tentando contornar, mas o DEAP, que é o órgão responsável, não dá solução para esta situação”, protestou a autoridade policial.
De acordo com o delegado, a Central de Polícia está recebendo presos condenados, que nem deviam passar pela delegacia. “Preso não pode ficar este tempo todo na delegacia, estou recebendo um preso condenado agora, porque o presídio não recebe e eu me obrigo a receber, porque não têm onde colocar. Agora preso condenado não deveria vir para a delegacia, ele já foi condenado, já houve a sentença judicial, para que vir à delegacia? Inclusive nós estamos recebendo presos de todas as comarcas do vale, nós estamos recebendo presos de Turvo, de Meleiro, de Santa Rosa, porque nestas cidades não tem plantão policial e não tem como deixar presos em uma cela sozinhos. Vou redigir um expediente para todos os órgãos competentes, porque eu não quero, que se acaso venha acontecer algum incidente, a Polícia Civil seja responsabilizada”, afirmou.
Um agente de Polícia Civil, lotado na CP, desabafou com a reportagem. “A gente vive em prol dos presos, as ocorrências que são da Polícia Civil, estamos com dificuldade em atender, porque vivemos em função deles. De atender a família, advogados, levando água e outras coisas que eles estão sempre pedindo, vivemos no assistencialismo do preso, o trabalho da Polícia Civil de fato, está ficando de lado”, relatou o agente.
Entre os ocupantes da cela da DIC neste fim de semana, estavam a quadrilha que foi presa pela Polícia Militar no sábado em Timbé do Sul, após tentativa de assalto na Serra da Rocinha. Dividindo as celas com eles, estavam presos por crimes de menor potencial ofensivo, como infração a Lei Maria da Penha e por não pagamento de pensão alimentícia.
Dois agentes de polícia e uma escrivã ficam de plantão na delegacia e o delegado de polícia que comparece quando chamado. Como na tarde de domingo, das 13 às 17 horas, um agente de polícia ficou com um preso no Hospital Regional de Araranguá – HRA, apenas a escrivã e mais um agente atendiam o público, presos, advogados e familiares na CP. A escrivã teve que deixar em determinado momento o serviço cartorário para auxiliar no atendimento ao público e o agente trabalhou atendendo e recebendo os presos e familiares.
Presos reclamam
A reportagem foi até onde ficam as celas e conversou com os presos, eles reclamavam de estar há dois dias sem tomar banho, de fazer uma refeição por dia e de não terem material de higiene. “Não tem nem como fazer necessidade, não tem papel, não tem nada, as coisas todas jogadas no chão aí, não tem onde a gente ficar, estamos todos um em cima do outro, não tem colchão, não tem nada”, protestavam.
Um dos presos reclamou do forte odor. “A catinga aqui é de milhão né”, falou. Outro preso relatou que o banheiro não estava funcionando, porém enquanto a reportagem estava na delegacia o banheiro foi consertado por um detendo do PRA, que foi acompanhado do chefe de segurança do presídio, até a CP fazer o serviço.
Com informações do Grupo Correio do Sul
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