Ingressar numa universidade é o sonho de todo jovem, pois é o lugar onde vai buscar orientações para a realização pessoal e profissional, descobrindo no conhecimento a sabedoria para tornar-se um ser humano na sua totalidade. É uma nova etapa da vida que merece ser comemorada com uma acolhida saudável, não com zombaria, violência, exposição ao ridículo como acontece nos “trotes” organizados pelos veteranos, que nada mais é do que a representação da sociedade em que vivemos: violenta, injusta, desigual, preconceituosa, dominadora. E, lamentavelmente, com permissão da universidade.
O trote universitário surgiu na Europa durante Idade Média com brincadeiras leves como: raspar cabeça, pintar a cara, pedir dinheiro, mas com o tempo foi tomando dimensões violentas levando, em alguns casos, até à morte. No Brasil foi introduzido no século dezoito, e em 1831 ocorreu a primeira morte durante um trote na Faculdade de Direito de Recife, abrindo caminho para muitas tragédias ocasionadas por esta brincadeira estúpida, totalmente incompatível com o papel da universidade.
Sempre fui contra esta prática, e torço para que não tenha de presenciar este tipo de ato, mas nessa segunda-feira nas sinaleiras em Criciúma fui abordada por moças e moços no humilhante papel de pedinte, catando moedas. Estudantes de MEDICINA, com cartaz no peito escrito “tequileiros”, expondo-se ao ridículo para arrecadar fundos para “bebedeiras”. Senti vergonha e pena pela pobreza de espírito: dos veteranos por expô-los a tal situação, e dos calouros pela submissão àqueles que hoje se vingam do que fizeram com eles no passado. É um círculo vicioso cabendo às universidades e autoridades o papel de mudar este quadro, promovendo debates sobre o assunto, pois é uma prática que ao invés de promover integração gera desconforto e consequências desagradáveis. É a reprodução da sociedade em que vivemos.
Resolvi questioná-los sobre a postura deles diante do que faziam, mas os jovens não tinham resposta. Estavam felizes porque passaram no vestibular e tudo é festa, até mesmo o fato de beberem com o dinheiro dos outros. Sem contar que as comemorações em muitas vezes vão além do ato de beber que pode levar à violência física e moral, abuso sexual que ficam no silêncio, pela falta de coragem em denunciar ou até mesmo porque providências não são tomadas.
O mundo evoluiu muito e sou da opinião que trote é coisa do passado, não condiz com o mundo moderno em que vivemos. É hora de se buscar alternativas para mudar esta cultura arraigada nas universidades, afinal é lá que os acadêmicos devem aprender a caminhar com passos firmes na busca de novos caminhos, ampliando horizontes, buscando a verdade acima de tudo, alimentando sonhos e esperanças num mundo melhor. Eles serão os construtores de uma nova sociedade, mas para isso precisam evoluir, abandonar hábitos e atitudes que nada acrescentam na construção do conhecimento. Isto significa dizer NÂO ao “trote universitário” nos moldes que hoje sobrevive.