Segundo coordenador da Funai, ela achou que criança ganharia presente. Menino de 2 anos foi morto em frente à rodoviária de Imbituba, no dia 30.
"O rapaz se abaixou e fez um carinho no rosto do menino. Disse que era um menino lindo. Logo a mãe pensou que iam ganhar alguma coisa, um presente. Segundos depois ele enfiou a navalha e saiu correndo".
O relato do coordenador substituto da Fundação Nacional do Índio – Funai em Chapecó, no Oeste catarinense, descreve o que ele ouviu na manhã desta segunda (4) da mãe de Vitor Pinto, o menino indígena de 2 anos assassinado no último dia 30 em frente à rodoviária de Imbituba, no Sul do estado. "Ela não entendeu o que aconteceu", disse Clóvis Silva.
Suspeito segue preso
Cinco dias depois, a motivação do crime segue desconhecida. Um suspeito foi preso na noite do dia 31 pela Polícia Militar e levado para a delegacia de Imbituba. Segundo a Polícia Civil, trata-se de um jovem de 23 anos com as mesmas características físicas do autor do crime, que aparece correndo em imagens de uma câmera de segurança.
Segundo informações da Polícia Civil de Imbituba, ele é morador da cidade. A identificação foi feita pela semelhança física e pelos objetos pessoais do rapaz. O delegado responsável pelo caso, Rogério Taques, não quis dar mais detalhes sobre o suspeito para preservar a família dele, que poderia sofrer represálias.
Nesta segunda (4), ele prestaria novo depoimento à polícia. O G1 SC tentou contato várias vezes com a delegacia de Imbituba, mas até a publicação da reportagem não havia informações sobre o depoimento. Ainda no dia do crime, um outro suspeito havia sido detido, mas foi liberado na mesma noite por não ter relação com o assassinato, segundo a Polícia Civil.
Família kaingang
Vitor Pinto era de uma família de índios kaingangues e vivia com na aldeia Condá de Chapecó. Ele acompanhava o pai e a mãe, que durante o verão, assim como muitos indígenas, vão para o litoral para vender o artesanato que garante o sustento da tribo.
No momento do crime, o menino se alimentava sob uma árvore ao lado da mãe. Além dela, um taxista presenciou o assassinato. O pai estava em outra parte da cidade, vendendo artesanato.
A mãe já foi ouvida pela Polícia Civil, mas deve prestar novos esclarecimentos. "Logo que falou com a polícia, ela ainda estava em choque". Na época, ela chegou a reconhecer o primeiro suspeito como autor do crime.
Segundo relato dela à Funai, o rapaz que está atualmente preso pode ser o autor do crime. "Ela não tem certeza. Ela só disse que, pelas fotos, o segundo homem preso está diferente do que era no dia. Na data, o suspeito estava mais 'cabeludo'. Agora ele está com cabelo raspado, mas ela não sabe dizer das feições.
De acordo com o coordenador substituto, por se tratar de um crime contra um índio, a coordenação nacional da Funai, em Brasília, solicitou que Polícia Federal também seja acionada para atuar nas investigações.
Comoção no enterro
O menino indígena foi enterrado na tarde de sexta-feira (1), em Chapecó. O corpo chegou por volta das 9h da manhã à comunidade, na companhia do pai. O velório ocorreu na igreja da aldeia Condá, e o enterro foi no cemitério da comunidade, após um cortejo. Dezenas de familiares e amigos da aldeia se reuniram desde cedo para se despedir do menino, e pediam justiça.
"Foi uma tragédia que aconteceu, pra nós da aldeia", disse a tia do menino, Marcia Rodrigues, que é vice-cacique da tribo. "A gente não esperava por isso. Nós estávamos querendo comemorar o 1° do ano todos juntos, na aldeia, fazer nossa festinha. E aconteceu essa tragédia."
Os pais, que têm outros dois filhos mais velhos, estavam muito abalados. O casal estava em Imbituba com o caçula para vender artesanato e só pretendia voltar a Chapecó ao fim do verão. "Respeita nós, pra acabar com a violência", pediu a tia. "Nós estamos com receio de sair para o litoral, principalmente com crianças".
Com informações do site G1 SC