A Banda Sinfônica do Unibave foi fundada em 2009 devido ao desejo do músico Paulovik Debiasi de manter uma banda na cidade. Ele iniciou os estudos musicais na Banda Estrela do Oriente, que funcionou no município durante 87 anos. Desde que ela foi extinta, em 1999, o músico manteve o desejo de resgatar a tradição.
A falta de apoio do poder público foi o principal motivo do fim do conjunto musical. A Estrela do Oriente, fundada em 1912, tinha as atividades paralisadas e retomadas durante todo o tempo em que existiu. “Ela dependia da vontade de cada gestor do município e, por conta disso, ora tinha apoio, ora não”, explicou.
Atualmente, este continua sendo um problema. Dessa forma, o músico tem idealizado projetos alternativos para manter o sonho. Paulovik se formou em música pela Udesc em 2008. No ano seguinte, voltou para Orleans e lançou o livro que escreveu sobre a história da banda. “Eu procurei também diversas pessoas para tentar reativar a banda. A única instituição que me deu ouvidos e abraçou a causa foi a Febave”.
Paulovik acredita que a maneira ideal para manter as atividades da banda seria através da criação de um Projeto de Lei Municipal. “O intuito é que uma parte pequena do recurso do município fosse destinada à banda ou para projetos da área da cultura”. O músico acredita que, quando não funciona dessa maneira, a realidade dá margem para que gestores despreparados não percebam a importância da cultura, deixando esta área abandonada.
“Quando temos um gestor preparado e qualificado na Administração Municipal, que percebe a importância da arte e cultura como meio de desenvolvimento social e humano, ele irá investir nesta área. Quando os interesses não são em prol do bem social, mas sim particulares, não haverá incentivo. Sem o projeto de lei, em uma gestão há incentivo e em outra não, é instável, de acordo com o interesse do gestor”.
Ele lamenta ainda que pessoas despreparadas possam assumir cargos políticos, dando margem à má gestão dos recursos públicos. “Eu sou formado em música e exerço a profissão de músico. Infelizmente, as leis do nosso país permitem que pessoas desqualificadas sejam políticos, mesmo quando em outras áreas isso não é possível. Eu como músico, por exemplo, não posso exercer a função de médico. Mas na política qualquer um pode atuar e, com isso, os recursos públicos são mal investidos”.
A banda funciona graças à Febave, que a mantém. O músico atua como coordenador, maestro e professor de música do projeto. A banda possui 25 integrantes. As aulas são gratuitas e voltadas para toda a população orleanense. Os instrumentos são caros. Sendo assim, são disponibilizados aos alunos, pois poucos têm condição de adquiri-los.
Entretanto, as dificuldades da banda não se limitam à questão financeira. “Fazer com que o aluno tenha um compromisso para que se torne músico e se mantenha na banda é um desafio. Desde que começa do zero até estar tocando um instrumento, leva em torno de três a quatro anos. Depois que ele está tocando, normalmente já está na adolescência e começa a trabalhar e ter outras atividades. Com isso, a banda vai sendo deixada de lado. Então é difícil manter o aluno na banda”, contou.
Driblando os desafios
Uma das formas que o maestro encontrou para manter a tradição da banda na cidade foi criar a Associação Musical Estrela do Oriente, com o intuito de buscar recursos. “Nós conseguimos, inclusive, uma ajuda do deputado Jorginho Mello, no valor de aproximadamente R$ 63 mil em instrumentos musicais", contou ele. “Alternativas encontradas, que deverão ser implantadas, são o convênio entre a associação e o Unibave, para que elas funcionem em conjunto, e bolsas de estudos, tanto da Febave quanto do Unibave, que é uma forma também de manter os alunos”.
Outras ideias serão postas em prática. “Temos também a intenção de criar um grupo de associados, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas, com mensalidade de R$ 10. Em contrapartida, o associado ou algum outro membro da família poderá ter aulas de música gratuitas. Essas são maneiras encontradas também para arrecadar recursos, principalmente, para adquirir instrumentos, cujo valor é muito alto, e para dar uma gratificação aos integrantes da banda nas apresentações”.
Benefícios de uma banda para a cidade
Os benefícios da existência de uma banda tanto para a sociedade quanto para as pessoas em si são inúmeros. “Enquanto a pessoa está envolvida com uma atividade artística ou cultural, ela se manterá ocupada, não sentirá necessidade do consumo de drogas ou atividades prejudiciais, por exemplo”, explicou Paulovik. “Também é uma forma de promover o convívio social entre os integrantes da banda, de trabalhar coletivamente, vencer a timidez, estimular funções cognitivas e coordenação motora”, completou.
Além disso, a música é uma forma de trabalhar a autoconfiança. “Propositalmente, eu coloco uma partitura que eu sei os alunos não têm capacidade naquele momento de tocar. Quando ele olha, diz que não irá conseguir. Mas então começamos a trabalhar nota por nota, até chegar a um compasso, indo, aos pouco, para outro compasso, nota por nota, e assim seguimos trabalhando”.
Paulovik conta que esta lição é levada durante toda a vida do aluno. “Chega um momento que o aluno vê que está tocando a música e vê que é capaz. Ele começa acreditar em si mesmo e se sente entusiasmado para superar novos desafios. Ao mesmo tempo, ele percebe que, para isso, é necessário dedicação e disciplina. Isso, consequentemente, serve de lição para qualquer desafio que ele for enfrentar na vida dele”.
Mais sobre a banda
Entre os instrumentos tocados, estão flauta transversal, clarinete, sax alto, sax tenor, trompete, trompa sinfônica, trombone, bombardino, tuba, bateria e percussão. Além disso, são oferecidas aulas de piano, teclado e violão iniciante. A idade ideal para começar a tocar os instrumentos de sopro, que são os mais comuns na banda, é a partir dos 10 anos de idade, quando a criança estiver alfabetizada.
"Trabalhamos com instrumentos de sopro e, conforme os dentistas, até os 10 anos, a criança está em formação da arca dentária, então forçar o instrumento pode prejudicar. Entretanto, instrumentos como piano e violão podem ser iniciados muito antes". Sobre o repertório, apesar de ser voltado para o popular, para serem escolhidas, conforme o maestro, as músicas devem despertar um sentimento bom para o público.
Um dos objetivos de Paulovik é que a Banda Sinfônica do Unibave passe a tocar canções compostas por músicos orleanenses da Banda Estrela do Oriente. “Fiz um resgate histórico cultural de algumas músicas no livro que escrevi, a mais antiga que encontrei foi de 1924, pretendo voltar a toca-las para que os mais velhos revivam o sentimento e que os mais novos passem a conhecer esse importante aspecto cultural de Orleans”.
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