Lideranças temem mudança do escoamento das produções para o Paraná
A duplicação das rodovias no Oeste do Estado é um anseio antigo da região, que é um polo agroindustrial e tem poucas alternativas de escoamento. Empresários e lideranças esperam que a concessão dos trechos dê fim às pistas esburacadas e em péssimas condições, que têm gerado prejuízos com manutenção de veículos e maior consumo de combustível.
Por outro lado, a concessão dos trechos que vão até o Paranátrazem preocupação com uma possível mudança de destino para escoamento dos produtos catarinenses do Porto de Itajaí para o de Paranaguá, no Paraná.
Embora o trecho até o Paraná seja cerca de 40 quilômetros maior, será todo duplicado em breve, enquanto que SC terá apenas parte do percurso melhorado. Trechos da BR-282 e da BR-470, que levam a Itajaí, não fazem parte desse pacote de concessões.
Para o presidente da Associação Comercial e Industrial de Chapecó – Acic, Bento Zanoni, a duplicação da BR-282 até Campos Novos e da BR-470 até Itajaí é importante não só para o transporte das carnes do Oeste para os portos. Ele destaca que as rodovias também são utilizadas para trazer matéria-prima para as indústrias da região, como aço e polipropileno.
Zanoni teme que a produção seja levada para o Paraná, prejudicando a economia catarinense. Atualmente quase metade das exportações de SC é de aves e suínos, que representam cerca de 2,5 bilhões de dólares por ano.
O deputado federal Esperidião Amin também está preocupado com a mudança. Para ele, a solução é agilizar e garantir a ampliação do percurso a ser duplicado para não lesar os catarinenses.
O engenheiro civil e consultor da Federação das Indústrias do Estado – Fiesc, Ricardo Saporiti, e o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de SC – Fetrancesc, Pedro Lopes, também criticam a duplicação parcial. Eles dizem que isso fará com que Santa Catarina seja apenas ponto de passagem.
DISCUSSÃO SERÁ LEVADA À AUDIÊNCIA
O secretário de Planejamento do Estado, Murilo Flores, ameniza a situação e diz que não é preciso tanto alarde, já que a duplicação dos trechos que faltam está na mira do governo federal.
"Os ministros dos Transportes e do Planejamento garantiram ao governador Raimundo Colombo que até julho do ano que vem serão licitadas as concessões da BR-282 e da BR-470 até Campos Novos", afirma.
O diretor agropecuário da Aurora Alimentos e presidente da Organização das Cooperativas do Estado, Marcos Zordan, não acredita que as empresas façam mudanças nas rotas de escoamento após as obras, pois a maioria tem terrenos em Itajaí, onde deposita os contêineres.
A discussão será levada à audiência pública que inicia hoje, às 9h, no Lang Palace Hotel, em Chapecó. É o primeiro dos três encontros promovidos pela Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT para colher sugestões ao edital de concessão, a ser lançado ainda em 2015.
ENTREVISTA: ANTONIO AYRES DOS SANTOS JR, Superintendente do Porto de Itajaí
“Evasão de cargas preocupa”
Por telefone, o superintendente do Porto de Itajaí, Antonio Ayres dos Santos Júnior, confirma haver preocupação com o modelo de concessão das rodovias, que num primeiro momento privilegia o escoamento para o Paraná. Ele afirmou que, se as rodovias que ligam o Oeste ao porto não entrarem na lista de concessões, a possibilidade de evasão de cargas é real. O que mais preocupa é que 50% da movimentação dos portos é proveniente das agroindústrias, a maioria sediada no Oeste.
Há preocupação de algumas lideranças catarinenses de que a duplicação de apenas um trecho das BRs 282 e 153, seguindo para o Paraná, poderia prejudicar os portos catarinenses. Você concorda?
Isso é uma preocupação. Se não houver boas condições de tráfego pela BR-470 é evidente que poderá haver evasão de cargas para Paranaguá. Essa questão já foi levantada pela Fiesc e pelo deputado Esperidião Amim. O governo do Estado também já está ciente disso e pediu a inclusão das BRs 282 e 470 no projeto.
Mas Paranaguá não tem o foco mais em grãos?
Ele já é um porto forte também em congelados e contêineres.
Quanto o porto pode perder em cargas do Oeste?
Atualmente 50% do movimento do porto é de congelados de carne suína e de aves. E disso, cerca de 80% vêm do Oeste.