Interação durante remoção de tumor serve para evitar lesões nas áreas sensoriais, motora e da fala durante o procedimento
O vídeo de um homem tocando violão enquanto era submetido a uma cirurgia no cérebro ganhou repercussão nas redes sociais. O bancário Anthony Kulkamp Dias, de 33 anos, retirou parte de um tumor próximo à área do cérebro que controla a fala e coordenação motora e por isso optou-se por realizar o procedimento com anestesia local. Sem sequelas, Anthony, que toca violão como hobby, deve receber alta nesta sexta-feira.
A cirurgia foi realizada na quinta-feira da semana passada no Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Tubarão. O neurocirurgião Marcos Ghizoni, líder da equipe médica que realizou a retirada, foi quem sugeriu utilizar o violão para realizar a monitorização cerebral, importante para evitar que ocorram lesões nas áreas sensoriais, motora e da fala. Em um determinado momento, por exemplo, Anthony disse que a mão estava pesada, o que permitiu estabelecer limites para a extração.
O anestesiologista e diretor clínico do HNSC, Jean Abreu Machado, explica que dessa forma é possível retirar uma parte maior do tumor do que se o paciente estivesse com anestesia geral, o que acontece na maioria das neurocirurgias. Machado, que já participou de seis procedimentos com pacientes totalmente despertos, afirma que a grande dificuldade é fazer com que o paciente supere o temor em relação à dor:
— Precisamos muito da colaboração do paciente. Temos que mantê-lo tranquilo e dar segurança de que ele estará acordado, mas sem sentir dor — diz.
No caso de Anthony para anestesia foi aplicada medicação na veia em combinação com sedação leve com bloqueio contínuo de nervo periférico. Isso fez com que paciente não sentisse dor em toda região do couro cabeludo.
O bancário Anthony descobriu o tumor no cérebro cerca de 15 dias depois do nascimento do filho, Emanuel, hoje com três meses. Esta foi a 19ª cirurgia com monitorização cerebral do Hospital Nossa Senhora da Conceição e a primeira em que os testes habituais foram substituídos por música tocada pelo paciente. Machado explica que há vários métodos para avaliar o paciente. No caso da linguagem, por exemplo, uma fonoaudióloga mostra figuras para que o paciente as identifique durante a cirurgia.
A cirurgia de Anthony durou nove horas e dentro de até 15 dias deve sair o resultado da biópsia que irá confirmar se tumor era maligno ou não. Em uma avaliação preliminar, o neurocirurgião Marcos Ghizoni acredita que tumor seja benigno.
Dr. Marcos Ghizoni fez a cirurgia juntamente com o neurocirurgião Dr. Michel Linne e o neurologista Dr. Franciel Linne, responsável pela eletroestimulação, auxiliados pela instrumentadora Keller Damian Preve.
O desafio de manter o paciente acordado e sem dor
Iraê Ruhland, presidente da Sociedade Catarinense de Neurocirurgia, explica que o procedimento com paciente desperto é comum e um dos primeiros foi realizado há cerca de 15 anos no Hospital Infantil Joana de Gusmão.
— É utilizado para doenças que estão em localização eloquente. Em área motora, de linguagem, de visão. Em áreas nobres, cuja remoção da lesão pode colocar em risco o aparecimento de sequela.
Além de usar esse recurso, neurocirurgiões já adotam a ressonância após um determinado tempo de cirurgia.
— Você leva o paciente ao aparelho de ressonância, avalia grau de retirada do tumor e volta ao centro cirúrgico novamente. Tem ainda o recurso que é o neuronavegador, assim durante a cirurgia você tem imagens de ressonância reais em um visor e com um aparelho você irá saber exatamente que área do cérebro está — diz Ruhland que realiza cerca de três neurocirurgias por mês, mas que até então não tinha visto um paciente tocando violão e cantando durante a cirurgia.
Com informações do Diário Catarinense
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