Esporte

Os 14 anos sem o filho da dona Maurina

Em 2002, terminava em um acidente de trânsito a trajetória de Mahicon Librelato.

Ele fez tanto em tão pouco tempo. O orleanense Mahicon Librelato parecia voar com as pernas em campo. Conduzia a bola como quem carrega seu brinquedo preferido. E era. Um brinquedo bastante sério, mas também cativante dos sorrisos. E como ele sorria. Seus passos em campo eram leves, seu toque na bola tinha a intimidade dos amores. Embora com aparente timidez, não se poupava a tomar partido. Como quando, em 7 de abril de 2002, decidiu não comemorar seu primeiro gol pelo Internacional, por ter sido anotado contra o Criciúma, clube que o formou.

Cuca, o técnico campeão brasileiro neste domingo pelo Palmeiras, estava com Mahicon numa aventura do Criciúma no final de 2001. O Tigre partia para uma repescagem com o Sergipe que valia vaga na Segunda Divisão do ano seguinte. O fracasso fulminaria o tricolor, e teria adiado o projeto que, por felicidade, se concretizou em 2002, a volta à elite nacional. Pois Mahicon liderou o time em campo, Cuca fora dele, e o Tigre despachou os sergipanos. "O filho da dona Maurina", bradava, a plenos pulmões, o narrador Jotha Del Fabro, na Rádio Eldorado.

Veio 2002, e com ele os sonhos do jovem Librelato se multiplicaram. Com uma camisa mais pesada, a do Inter, chegar à Seleção era questão de tempo. Mahicon posava já como grande promessa do futebol brasileiro. Mas o Brasileiro foi cruel para os colorados, e para Mahicon, e lá estava de novo o jovem talento lutando contra um rebaixamento. E, de novo, ele foi fundamental. Fez gol na nervosa decisão de Belém e empurrou o Inter para os 2 a 0 salvadores diante do Paysandu.

Mahicon não viveu para chegar à Seleção. Ele estaria nas Olimpíadas de 2004, teria feito muitos gols e sua transferência para a Europa seria inevitável. E Librelato estaria no grupo da Seleção na Alemanha, em 2006, e mais maduro teria ido à África do Sul, em 2010. Teria brigado quem sabe por sua terceira Copa em 2014, no Brasil. E a essa altura, consagrado e famoso mundialmente, estaria ensaiando seu retorno ao Heriberto Hülse para uma despedida em alto estilo.

Mahicon não viveu para ver o Criciúma, com pouco brilho, ficar na Série B mais uma vez. E muito menos o Internacional, onde virou ídolo em tão pouco tempo, correr o seríssimo risco de cair. Talvez Mahicon adiasse a volta ao Tigre para ajudar o Colorado a não despencar. E depois, mais tranquilo, ajudaria o seu tricolor, como sempre ajudou.

Mas a pista molhada da Beira Mar norte, em Florianópolis, encerrou aquela noite de festas e curtição com os amigos e com a Ford Ranger que o craque do Inter tanto vinha curtindo. As férias de Mahicon ainda estavam começando quando tive (agora em primeira pessoa) a infeliz responsabilidade de ser o primeiro radialista a noticiar, na Rádio Guaíba: “morre em acidente de trânsito em Florianópolis o jogador Mahicon Librelato, do Internacional”. Era pouco mais de uma e meia da manhã de 28 de novembro de 2002. Difícil acreditar. Até hoje.

Confira aqui o projeto de rádio da Faculdade Satc que resgata a história de Mahicon Librelato.

Com informações de Denis Luciano / Portal Engeplus

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